A BOCA: O NOVO ALVO PARA SUA SAÚDE GERAL
- Paula Fusetto
- 19 de fev. de 2023
- 5 min de leitura
OS MICROORGANISMOS DA BOCA, A DISBIOSE INTESTINAL E A SAUDE GERAL

Você está numa reunião numa sala com 10 pessoas, e ao olhar ao seu redor não imagina que metade delas tem doença periodontal, nove delas e isso pode incluir você, tem algum tipo de doença gengival.
Esta estatística é dada pelos estudos epidemiológicos da OMS de 2020, que dizem que 50% dos adultos tem periodontite e pelo menos 96,5% tem gengivite.
Com esses dados alarmantes, posso concordar que grande parte dos novos pacientes que entram no consultório tem algum tipo de inflamação gengival.
A gengivite é uma inflamação reversível, já a periodontite não, sendo esta multifatorial, infecciosa, crônica e de caráter imuno inflamatório que se relaciona a perdas precoces de tecido ósseo e num momento mais avançado à perda dos dentes.
Ambas dependem da formação e da manutenção do biofilme (placa bacteriana) aderido à superfície dentaria, e muitos pacientes se surpreendem ao serem examinados e diagnosticados com a "tal" periodontite ou gengivite, uma vez que realizam higiene diária rotineira, o que torna a escovação um grande desafio a ser compreendido e lapidado de forma personalizada e constante.
Além do que, o sangramento à escovação ou uso do fio deve ser ponto de atenção.
Engana-se quem pensa que a periodontite tem sempre um aspecto visual desagradável, pois, o nome “doença” deixa tudo mais turvo em nossa cabeça e ao “dar um google” as imagens que aparecem são de dentes e gengivas horrorosas, logo nos excluímos dessa estatística.
Assim, esclarecimentos para este assunto se faz necessário, devido ao lugar comum que estas alterações são colocadas.
Porque aos olhos de muitos, "está tudo bem ter mau hálito, sangramento ou inflamação gengival", e embora a gengivite seja reversível, a periodontite não tem cura mas tem tratamento e controle, e pode melhorar muito a qualidade de vida de quem dela trata.
Vamos entender um pouco como funciona estas doenças e sua importância para a saúde geral.
Na boca temos um ecossistema bilionário de bactérias, por volta de 50 bilhões, destas sendo cerca de 700 espécies diferentes que habitam constantemente sua boca.
São bactérias boas que fazem parte deste ecossistema, ou seja, vivem em equilíbrio.
Mas para cada doença existem algumas bactérias ou grupo delas que podem se proliferar e se transformar nas protagonistas do mal.
À medida que ocorre o aumento potencial de algumas delas, por falha na higiene oral, problemas genéticos e autoimunes as mesmas se tornam extremamente patogênicas, ou seja, com grande potencial causador das doenças.
No caso da periodontite existem as chamadas "bactérias do complexo vermelho" e as Porphyromonas gingivalis fazem parte deste grupo que modificam a resposta imune local e favorecem a si mesmas o seu próprio ambiente para sua proliferação.
Sendo a boca colonizada por bactérias logo nos primeiros momentos da vida, e por ser a porta de entrada da nossa vida social e física, a mesma também passa por muitos desafios como comer, beber, beijar, roer unhas, sendo que todos estes atos carregam consigo muitas bactérias do ambiente externo.
Várias espécies estranhas passam pela cavidade oral ao longo da vida e nós nos protegemos muito destes invasores por meio do sistema imunológico da cavidade oral que está em constante alerta e construção.
Por meio deste sistema imunológico de proteção as bactérias da boca deveriam se manter exclusivamente neste ambiente, que embora pareça um ambiente fechado, pesquisadores publicaram um artigo em junho de 2022 na Nature que identificaram no intestino por meio de marcadores celulares a Porphyromonas gingivalis, que é uma bactéria predominantemente dos tecidos gengivais.
Por isso encontrar bactérias, fungos ou vírus específicos da cavidade oral em outros tecidos do corpo como coração, cérebro ou pulmões, indica que esta bactérias se deslocaram do local de origem e podem influenciar negativamente nas doenças sistêmicas e em outras partes do corpo como publiquei no primeiro texto desta série do BLOG da Fusetto Odontologia.
Curiosamente, esse artigo da Nature revelou que que engolir a saliva, um ato comum e rotineiro, contendo estas bactérias patogênicas, pode levar a outra via que liga esta doença gengival à doenças sistêmicas, especialmente no intestino.
A disbiose é uma delas.
Hoje o termo disbiose é bastante conhecido quando falamos em intestino.
A disbiose é um desequilíbrio quando o número de bactérias ruins superam as boas.
E isso também pode ser visto na doença periodontal.
Estes sugerem que a periodontite pode induzir a disbiose INTESTINAL.
Além de mais de 57 doenças sistêmicas associadas à periodontite, temos a diabetes, as doenças cardiovasculares, uma série de doenças respiratórias em especial a pneumonia bacteriana e a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), o Alzheimer
e agora a disbiose intestinal.
O intestino, de alguns anos para cá, tem chamado a atenção da ciência pois deixou de ser apenas im órgão de absorção e digestão de alimentos para passar a a ser um órgão fundamental no nosso bem estar, sendo considerado hoje nosso segundo cérebro, responsável inclusive por nossas emoções.
E saber que podemos contribuir com nossas emoções tendo uma saúde bucal em dia, nos traz uma motivação ainda maior.
Mais de 90% da nossa serotonina, o hormônio da felicidade é produzida no intestino, portanto um intestino doente não traz felicidade.
Ou seja parte de nossa felicidade está nos nossos hábitos alimentares, nossa saúde intestinal e geral interligada à com nossa saúde bucal.
Já, uma boca saudável, pode trazer mais mais do que apenas a saúde bucal, por aqui se inicia a quebra de alimentos pelos de dentes e proteínas salivares que participam ativamente no início de nossa digestão.
Por exemplo, as bactérias transformam o nitrato que ingerimos nas frutas e vegetais em nitrito, que se transforma em óxido nítrico, ajudando a regular a pressão arterial.
Com tantas informações, o alerta deste texto vai para aumentar a atenção aos cuidados para doença periodontal, que é silenciosa e indolor e acomete um número alarmante de pessoas ao redor do mundo, mesmo em paciente que supostamente escovam seus dentes da forma como aprenderam desde pequenos. e também a conscientização quanto às consultas preventivas.
Por isso, compreender a conexão íntima entre sua saúde bucal, intestino e outras partes do corpo e como esse cuidado impacta na sua saúde física, bem estar geral e longevidade de vida e dos seus dentes, alerta sobre a importância de manter hábitos saudáveis que incluem uma alimentação adequada, atividades físicas e meditativas para gerenciamento do estresse o quais nos mostram que estão intimamente ligados à nossa qualidade de vida.
E enquanto a ciência ainda não tem respostas para afirmar que estas bactérias produzem um estrago importante no nosso intestino, já temos indícios de que vale muito a pena manter nossa saúde bucal em dia a final nossa saude geral agradece.
Consulte um periodontista.
Paula Fusetto, cirurgiã dentista, periodontista e reabilitadora oral minimamente invasiva
e apaixonada por sorrisos.
Fundadora da Fusetto Odontologia
bibliografia consultada:
Kumar, PS (2021). Disbiose microbiana: a causa raiz da doença periodontal. Jornal de Periodontologia, 92 (8), 1079-1087. doi:10.1002/jper.21-0245
Maoyang Lu, Songyu Xuan, Zhao Wang,
Oral microbiota: A new view of body health,
Food Science and Human Wellness.
Oral microbiome findings challenge dentistry dogma
Complex microbial communities in the mouth clarify the causes of, and provide new treatments for, dental disease. Nature. 27 October 2021.
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